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quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

HR investiga aumento dos casos de síndrome que ataca sistema nervoso

Casos da Síndrome de Guillain-Barré cresceram vertiginosamente em 2015.


Confirmações passaram de 14 no ano passado para 42 até junho deste ano.

do G1 Pernabuco

O Hospital da Restauração (HR), unidade de referência em neurologia no estado, investiga o aumento significativo dos casos da Síndrome de Guillain-Barré -- doença inflamatória que ataca o sistema nervoso. Segundo levantamento do centro médico, o número de registros passou de 13 em 2013 e 14 no ano passado, para 80 casos suspeitos nos primeiros seis meses deste ano. Destes, 42 já foram confirmados.
O HR também estuda a possibilidade do crescimento da SGB estar associada ao aparecimento do zika vírus. O microorganismo, transmitido pelo mosquito Aedes Aegypti, também é um dos principais suspeitos de provocar os casos de microcefalia, que dispararam em Pernambuco e outros estados do Nordeste, de acordo com o Ministério da Saúde. Pelo último balanço, a região registrou 789 casos suspeitos, 487 deles em Pernambuco.
Dos casos da síndrome já notificados no HR, 69 estão sendo investigados através de exames de sangue e do líquido retirado da coluna dos pacientes. Até o momento, quatro deles já deram resultado positivo para o zika vírus. Os médicos do serviço de neurologia criaram um protocolo para investigar o aumento da síndrome que provoca febre, dor nas articulações, nos músculos e leva a paralisia das pernas e dormência nos braços.
De acordo com a chefe do serviço de neurologia do HR, a médica Maria Lúcia Brito Ferreira, o crescimento do número de casos da SGB no contexto do aparecimento do zika vírus no estado, pode indicar uma relação entre os dois. "O que mais chamou a atenção foi a frequência dos casos nesse periodo de tempo. Tivemos 13 em 2013, 14 em 2014 e em 2015, na metade do ano, já tínhamos 42 casos da SGB, além de outras manifestaçãoes neurológicas que poderiam também estar associadas a uma etiologia viral ou autoimune", explica a especialista.
A neurologista acrescenta que a confirmação do diagnóstico desses pacientes que foram acometidos pelo zika vírus, reforçam a possibilidade de que a síndrome nos demais casos investigados também possam ter sido causada pelo microorganismo. "Acho que tudo isso compõe a nossa investigação. Se nós começamos a investigar, por termos afastado outras possibilidades virais, o fato de quatro pacientes com a SGB e dois da encefalomielite aguda disseminada terem sido positivos para o zika, fazem a gente supor que os demais possivelmente também tenham relação com essa virose".
Zika e microcefalia
No dia 17, o Ministério da Saúde informou que os casos de contaminação por zika vírus registrados no primeiro semestre são a "principal hipótese" para explicar o aumento da ocorrência de microcefalia na região Nordeste. O aumento dos casos de microcefalia e a hipótese de uma relação com o vírus foram comunicados "verbalmente" à diretora da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/ONU), Carissa Etienne, na semana anterior ao anúncio. O zika é transmitido pelo mosquito Aedes aegypti, assim como a dengue e a febre chikungunya.
"Todos os cientistas que tivemos contato até agora atribuem o surto de microcefalia, por enquanto circunscrito ao Nordeste, principalmente no estado de Pernambuco, ao zika vírus", declarou, à época, o ministro da Saúde, Marcelo Castro. "Estamos com o problema potencializado. Além da dengue, que mata, além da chikungunya, que aleija temporariamente, temos o zika vírus, que aparentemente causa a microcefalia. [É] um problema de dimensões muito grandes que temos que enfrentar", acrescentou.


Há 'fortes indícios' de que zika vírus, transmitidos por mosquitos Aedes aegypti, tenha correlação com aumento de casos de síndrome de Guillain-Barré

Especialistas veem 'forte evidência' de ligação de Guillain-Barré com zika.
Aumento significativo foi observado em PE, PI, BA, SE, RN e MA.

por Mariana LenharoDo G1, em São Paulo

 

 Há 'fortes indícios' de que zika vírus, transmitidos por mosquitos Aedes aegypti, tenha correção com aumento de casos de síndrome de Guillain-Barré  (Foto: AFP Photo/Patrice Coppee) 

Especialistas veem uma “forte evidência” de que o aumento de casos da síndrome de Guillain-Barré em algumas regiões tem relação com a chegada do zika vírus ao Brasil. A síndrome afeta o sistema nervoso e pode provocar fraqueza muscular e paralisia – geralmente temporária – dos membros. Até o momento, porém, o Ministério da Saúde não confirma a correlação. O ministério está estudando a situação e deve divulgar as conclusões sobre o assunto em breve.
Pelo menos seis estados observaram um aumento significativo de ocorrências da síndrome este ano.
Em Pernambuco, foram 130 casos de Guillain-Barré em 2015. No ano passado, tinham sido só 9. O Rio Grande do Norte teve um aumento de 23 para 33 casos de 2014 para 2015. No Piauí, houve 42 casos em 2015, contra 23 casos em 2014. Sergipe registou 28 casos este ano, número expressivo já que nos anos anteriores não há registro de nenhum caso. Maranhão teve 32 casos suspeitos; no ano passado, foram 10. Na Bahia, há 64 casos registrados em 2015. Apesar de não haver dados disponíveis sobre anos anteriores, o número mais do que dobrou em apenas 5 meses: em julho, havia 29 casos confirmados.
 
“Neste momento, temos que encarar que existe um indício forte de relação entre o zika e a síndrome de Guillain-Barré, mas para ter certeza absoluta precisamos de mais elementos e avaliar com mais profundidade os pacientes que desenvolveram a síndrome”, diz o médico Marcondes Cavalcante França Junior, coordenador do Departamento Científico de Neurogenética da Academia Brasileira de Neurologia (ABNeuro).

Quais são os sintomas da síndrome de Guillain-Barré?
A síndrome de Guillain-Barré - que pode afetar pessoas de qualquer idade, especialmente adultos mais velhos - começa a se manifestar por formigamento nos pés e pernas. A sensação tem caráter ascendente, ou seja, vai subindo para os joelhos, coxas, mãos e braços.
O formigamento e a alteração da sensibilidade dos membros vêm acompanhado de fraqueza nos músculos e paralisia. Os sintomas podem atingir os músculos da face e da respiração, o que faz com que o paciente precise ser tratado em unidades de terapia intensiva (UTI).

Quais são as causas da doença?
A síndrome de Guillain-Barré ocorre, na maioria das vezes, algumas semanas após uma infecção por vírus ou bactéria. O que ocorre é que o organismo do paciente desenvolve uma reação imunológica para combater a infecção e destruir os vírus ou bactérias. Mas existem estruturas nos vírus e bactérias que são muito parecidas com a bainha de mielina, estrutura que reveste as células nervosas.

“O sistema de defesa, de uma hora para outra, passa a ter como alvo a capa que reveste o nervo, chamada mielina, que é um isolante elétrico que faz com que o impulso nervoso seja conduzido mais rápido. A bainha de mielina é acometida e o impulso elétrico passa a não ser mais conduzido”, explica o médico Tarso Adoni, membro da ABNeuro e neurologista do Hospital Sírio-Libanês. É por isso que a síndrome pode ser considerada uma doença autoimune.
Algumas infecções que já foram associadas ao desenvolvimento de Guillain-Barré são as infecções por citomegalovírus, vírus da gripe, da dengue, da hepatite, além de bactérias como a Campylobacter jejuni.
Há evidências de que o aumento de casos tenha relação com o zika vírus?
Considerando o aumento expressivo do número de casos de Guillain-Barré em regiões onde também se constatou a presença do zika vírus, especialistas consideram que existem fortes indícios de correlação. Até o momento, porém, o Ministério da Saúde não confirma a existência desse vínculo, está analisando a situação e deve divulgar resultados em breve.
Instituições como o Hospital da Restauração, no Recife (PE), que já atendeu um número excepcional de casos de Guillain-Barré este ano, também desenvolvem estudos para confirmar a possível correlação.

O médico Érico Arruda, presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), pondera que é mais difícil confirmar a correlação entre o zika e a síndrome de Guillain-Barré do que foi em relação à microcefalia. “Na maioria dos casos, a síndrome de Guillain-Barré ocorre após a conclusão da viremia. O vírus vai embora e depois vem o Guillain-Barré. Por isso seria mais difícil encontrar o vírus nesses pacientes.”

Como é o tratamento?
 
A doença pode regredir de maneira espontânea, mas existem dois tratamentos que aceleram a recuperação. Um deles é a plasmaférese, procedimento que lembra a hemodiálise, em que o sangue é filtrado para remover os anticorpos que estão lesando os nervos do paciente. O tratamento exige uma estrutura hospitalar complexa e uma equipe com experiência em hemoterapia.
O outro é a injeção de imunoglobulina humana, que faz com que os anticorpos deixem de atacar os próprios nervos. O tratamento de um único paciente com essa estratégia pode custar entre R$ 30 e 40 mil. Segundo o neurologista Marcondes Cavalcante França Junior, da ABNeuro, os dois tratamentos estão disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS), porém nem todos os hospitais têm a estrutura necessária para aplicá-los.
Além disso, é importante que o paciente fique internado durante a doença porque, caso a paralisia afete os músculos respiratórios, ele precisa ser submetido à ventilação mecânica. Mesmo pacientes com sintomas mais leves devem ser internados, pois a doença pode evoluir rapidamente.

Há risco de o paciente ficar com sequelas?

 A síndrome de Guillain-Barré é considerada uma doença de prognóstico favorável pelos médicos. Em 85% dos casos, há uma recuperação praticamente completa que pode levar de dois a quatro meses. Em 15% dos casos, pode haver sequelas, desde as mais leves, como fraqueza nos pés ou dormência, até as mais significativas, em que os pacientes podem perder a capacidade de andar.



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