A Sputnik conversou
com a embaixadora cubana Mercedes Martínez Valdés, funcionária
responsável pela Rússia no ministério das Relações Exteriores de Cuba,
sobre as atuais relações e a agenda política, social e econômica dos
dois países. A seguir, a íntegra dessa entrevista exclusiva.
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Sputnik/ Kirill Kallinikov
Putin saúda amizade com Cuba em encontro com Raúl Castro
Sputnik – Como a senhora avalia o estado atual das relações
entre Rússia e Cuba? Como enxerga a interação política dos dois Estados
no âmbito de organização e fóruns internacionais?
Mercedes Martínez Valdés – Atualmente, a situação das
relações entre Cuba e Rússia é excelente. Este ano celebramos o 55º
aniversário do restabelecimento das nossas relações diplomáticas.
Uma prova da situação positiva dos nossos vínculos é exatamente o
fluido intercâmbio nos diversos fóruns e organizações internacionais.
Nosso países mantêm uma ativa interação sobre diferente pontos da agenda
multilateral.
Foi reativado o trabalho da Comissão Intergovernamental para a
colaboração econômico-comercial e técnico-científica, a nível dos
vice-presidente de ambos os governos, celebrando suas sessões em
dezembro de 2014 e abril de 2015, esta última com resultados concretos
de cooperação e intercâmbio econômico.
Agradecemos o apoio invariável da Rússia à resolução cubana de
condenar o bloqueio e as reivindicações da Duma Estatal (câmara baixa do
parlamento russo) para interromper esta prática criminosa.
Sputnik – Estão planejadas para este ano contatos entre os dois
países no mais alto nível de visita oficiais? Se sim, quando estas
poderiam acontecer? E no que se refere aos contatos entre os ministérios
dos dois países?
Mercedes Martínez Valdés – São tradicionais os contatos
de mais alto nível entre Cuba e Rússia, e isso se baseia na força dos
nosso laços. O Presidente Vladimir Putin visitou Cuba em 2000 e em 2014,
e Medvedev esteve em Cuba em 2008, como presidente, e em 2013 como
primeiro-ministro. O presidente cubano Raúl Castro visitou Moscou em
2009, 2012 e acabou de participar das celebrações do aniversário de 70
anos da vitória sobre o fascismo, em Moscou.
Os chanceleres trocam visitam sistematicamente, a partir do diálogo permanente que existe entre ambos os ministérios.
A nível parlamentar, recebemos uma visita da presidenta do Conselho
da Federação (câmara alta do parlamento russo) e do presidente da Duma
de Estado, este último para presidir no último mês de maio
as comemorações em Cuba do aniversário de 70 anos sobre o fascismo na
Grande Guerra Patriótica (Segunda Guerra Mundial), celebrado com um dia
de atividades que contou com ampla participação popular. Estiveram
também em Cuba presidentes de diversos comités de ambas as câmaras do
parlamento russo. O presidente do nosso parlamente foi convidado para
visitar a Rússia.
Também ampliamos as nossas relações com as regiões. Cuba foi visitada em
2014 por representantes das autoridade locais de Tula, São Petersburgo e
Tartaristão, a pesar de mantermos relações com muitas outras regiões da
Federação Russa.
Temos importantes relações entre os nosso Ministérios Públicos e tribunais supremos.
A Rússia foi convidada de honra no Festival “Cubadisco 2015”. O circo
russo participou nos últimos anos do evento “Circuba”, que se comemora
em nosso país.
Em 2014 viajaram até Cuba 69.443 turistas russos, que puderam
desfrutar em nosso solo as maravilhas da natureza cubana, além de
expandir o seu conhecimento sobre o nosso povo, cultura e as nossas
tradições.
Se podemos garantir algo é que essas trocas terão continuidade pela
vontade e importância que ambos os povos dão à nossa amizade.
Sputnik – Como são vistas em Cuba as relações econômicas entre
os nossos países? Que esferas da cooperação atual parecem mais
promissoras? Poderia citar algum exemple concreto da cooperação
existente?
Mercedes Martínez Valdés – As relações econômicas não
ainda não atingiram o nível de laços políticos, mas ambos os países
trabalham conscientemente para alcançar um intercâmbio maior, mutuamente
vantajoso.
Áreas coo energia, biotecnologia, turismo, indústria e transporte,
são identificados como as maiores perspectivas para o intercâmbio
bilateral e o estabelecimento de negócios.
Um exemplo de cooperação bem sucedida foi a inclusão no mercado russo
do produto farmacêutico cubano Heberprot-P, único medicamente a tratar
atualmente com sucesso paciente com úlceras diabéticas no pés, reduzindo
consideravelmente os riscos de amputação.
Cuba se beneficia hoje com um programa de 100 bolsas concedidas pelo
governo russo, o que permitirá a capacitação de nossos profissionais em
centro russos de excelência e prestígio internacionais, ao mesmo tempo
em que irá proporcionar oportunidades de aprendizado da vasta cultura e
do idioma russos.
Sputnik – Com o início das negociações sobre o
restabelecimento das relações diplomáticas entre Havana e Washington
alguns meio começaram a especular que este processo poderá afetar
as relações entre Havana e Moscou. Existem motivos para tais hipóteses?
Mercedes Martínez Valdés – Acredito que, da maneira
como a questão se coloca, não são nada além de especulações, que
demonstram um desconhecimento da tradição histórica, a maneira de pensar
e de trabalhar dos cubanos.
A relação entre os povos cubano e russo se forjou durante anos e
mostrou que, apesar das conjunturas, está baseada em genuíno sentimento
de amizade.
Também compartilhamos vivências. Os cubanos participaram de façanhas
memoráveis da história russa, como é o caso do internacionalista cubano
Enrique Vilar, que lutou na Grande Guerra Patriótica e caiu nos
arredores da cidade de Leningrado. Muitos internacionalistas e
profissionais russos estiveram em Cuba desde os anos 1960 e fizeram
parte do contingente de técnicos e profissionais que ajudaram a promover
o desenvolvimento econômico do nosso país.
Cuba e Rússia compartilham posições sobre importantes temas da agenda
internacionais e se esforçam em contribuir para a realização de um
mundo multipolar baseado nos princípios da Carta das Nações Unidas.
São essas bases que garantem a continuidade de alguns vínculos que foram testados durante a nossa história comum.